Piodão

A aldeia que agora chamamos de Piódão não é, na verdade, a povoação original. Houve, em tempos, num vale muito próximo, um outro Casal de Piodam (“a gente ou o povo que anda a pé”), actualmente reduzido a ruínas envoltas num denso matagal. Embora não se saiba muito bem que motivos levaram essa povoação ao abandono, pensa-se que, devido ao calor, sofria com as investidas das formigas que devoravam o mel, uma das suas principais riquezas e, por outro lado, não dispunha de água suficiente para cobrir as necessidades de uma população em expansão. Por outro lado, é provável o desejo de diversificação da produção de cereais e que os habitantes do velho Piódão se tivessem dispersado pelo vale, dando origem a novos focos populacionais.

De qualquer modo, as duas aldeias partilham uma história muito mais antiga: os habitantes de ambas descendem dos Lusitanos,
os mais antigos povoadores dos Montes Hermínios que se tem conhecimento (compostos por um povo oriundo do Norte de África, com características comuns aos berberes, e por outro que se movimentou a partir da zona Setentrional dos Alpes, os celtas, dos quais se terão herdado as actividades relacionadas com a pastorícia e o cultivo dos cereais, nomeadamente da cevada).
Ao longo dos tempos, as populações foram criando condições para a subsistência, conquistando à serra com suor cada pequena leira, cultivada em socalcos. E assim viveram durante séculos do mel, azeite, queijo, centeio e milho a que, já mais recentemente, agregaram a exploração do carvão e das minas de volfrâmio. Curavam as maleitas com responsos e mezinhas e quebravam o isolamento com grandes caminhadas (são deliciosas as histórias, por exemplo, das “galinheiras”, mulheres que calcorreavam caminhitos até à Covilhã, de cesta à cabeça, em dias de neve ou calor abrasador, recolhendo ovos pelos montes que depois vendiam na cidade maior).
Só que as dificuldades deixaram um dia de fazer sentido, perante o estilo de vida das grandes cidades e, a partir de meados do século XX, a maioria emigrou para outros países ou para o litoral. Repare-se que a estrada de Piódão só foi construída em 1972 e a instalação de energia eléctrica, meia dúzia de anos depois. Demasiado tarde para fixar as gentes de Piódão à sua terra, agora ressuscitada, graças ao número crescente de visitantes (sobretudo portugueses e espanhóis) que viajam, através desta aldeia remota, pela história de um Portugal quase esquecido.